terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Recordar é viver...um pouco de mim

 



Enquanto minha avó materna foi viva, comíamos em casa dela. Fazia-nos umas comidas únicas. Ainda hoje me lembro, aqueles aromas e sabores, como se os tivesse agora na minha frente.
Fazia umas comidas em algo parecidas a uma sopa de feijão seco com couves. Só que tinha pouco caldo e muita couve, cortada muito fina. Uma vez no prato regava-se com azeite. Num canto da casa havia sempre um monte de pequenas peras. O chão era de terra coberto de feno. Era uma grande peça, fazia cozinha e sala de jantar. Havia dois quartos divididos por uma parede. Minha avó sempre fez a comida ao lume duma grande lareira, havia ali sempre lume. E eu sempre gostei de estar sentada ali a olhar para ele.
Quase todos os dias pela manhã acompanhava meu pai ao mercado a Nazaré, comprar peixe ou carne para assar. Comíamos uma salada de pepino e tomate, e daquele bom pão caseiro e broa. Naqueles tempos já gostava da broa!
A praia que frequentávamos era a da Nazaré: estávamos a só 9 km. Gostava de ver chegar os barcos dos pescadores, e juntar-me aos turistas a ajudar a retirar as redes do mar. Era uma das coisas dignas de ver, uma atração popular da Nazaré. Quando a rede saia do mar, o peixe saltitava na areia. Depois era levado para a Lota e algum era vendido fora desse local pelas peixeiras.
Hoje tudo isto acabou, que pena! Tudo muda, não é? O mundo, a vida estão sempre em mudanças e progredir foi bom. Os barcos tinham grandes dificuldades ao sair e ao entrar para vencer o grande obstáculo que oferecia aquelas ondas por vezes tão imensas, daquele oceano tão feroz. O porto de abrigo salvou muitas vidas, pôs fim a uma época que, sendo perigosa, tinha certo encanto, que a nostalgia aviva.

Lena