Depois, em França, o meu pai fazia um presépio, como era de tradição em Portugal, que mais tarde passou a ser um pinheiro adornado de bolinhas e grinaldas. Deixou de ser o Menino Jesus para ser o Pai Natal. Esta alteração não fez com que aumentasse o número nem a qualidade das prendas. Os supermercados estavam repletos de brinquedos,
chocolates; havia muito de tudo.
Nos dias que antecediam a Festa, sonhava e desejava que esse Pai Natal fosse mais generoso comigo. Tentava fazer o máximo para que me considerasse uma boa menina, sendo aplicada na escola, ajudando à minha mãe nos trabalhos da casa, mas os resultados acabavam por fazer com que me sentisse desgostosa, mas sem me manifestar. Acabava por aceitar que o Pai Natal não podia ser tão generoso com todas as crianças. Tampouco lograva compreender como outras tinham tanto. Parecia-me injusto. Mas o Natal era bem mais do que isso. Na consoada comíamos o bacalhau com as couves. E o que mais gostava nesse dia era ajudar o meu pai a fazer as filhoses logo a seguir ao jantar. Enquanto ele as metia no azeite, eu ia-as untando com açúcar e canela. Antes de irmos dormir bebíamos um café com uma filhó quentinha.